A
Caminho de Canudos
Narrador
(Gustavo):
- Em mais uma de suas noites de tormentas, o eterno
solteiro e príncipe do parnasianismo, via o dia raiar na sua triste solidão. Ao
olhar para as estrelas usa da personificação das mesmas para descrever o seu
grande amor perdido – Amélia de Oliveira -, seu vocabulário precioso e rimas
ricas para criar ali um soneto:
Olavo
Bilac (Fernanda):
- “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!”E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
Narrador
(Gustavo):
- Como nascer do dia, acorda Cruz e Souza, com o
entusiasmo de quem possui uma intuição nova e grande sobre a realidade geral.
Ainda que esse seu pensamento possua grandes afinidades com a filosofia de
Schopenhauer, há ali um otimismo, que traz uma esperança no final.
Cruz
e Souza (Macksine):
- Sol, rei
astral, deus dos sidérios Azues, que fazes cantar de luz os prados verdes,
cantar as águas! Sol imortal, pagão, que simbolizas a Vida, a Fecundidade!
Luminoso sangue original que alimentas o pulmão da Terra, o seio virgem da
Natureza! Lá do alto zimbório catedralesco de onde refulges e triunfas, ouve
esta Oração que te consagro neste branco Missal da excelsa Religião da Arte,
esmaltado no marfim ebúrneo das iluminuras do Pensamento.
Permite-me
que um instante repouse na calma das Idéias, concentre cultualmente o Espírito,
como no recolhido silêncio das igrejas góticas, e deixe lá fora, no rumor do
mundo, o tropel infernal dos homens ferozmente rugindo e bramando sob a cerrada
metralha acesa das formidandas paixões sangrentas.
Narrador
(Gustavo):
- Desse modo, o homem negro, torna-se o maior poeta
simbolista do seu tempo. E critica os ‘’papas’’ da arte parnasiana:
Cruz
e Souza (Macksine):
- Concede,
Sol, que nem mesmo os Papas, que têm à cabeça as veneráveis orelhas e os
chavelhos da Infalibilidade, para aqui não venham com solene aspecto abençoador
babar sobre estas páginas os clássicos latins pulverulentos, as teorias
abstrusas, as regras fósseis, os princípios batráquios, as leis de
Crítica-megatério.
Cena Final:
Ao fim, um
homem (Gustavo) com longas madeixas e barba, que vem a caminhar de longas
distâncias com uma bata e sandália de couro, aparece e abençoa Cruz e Souza,
levando-o em sua caminhada.
Grupo:
Gustavo, Fernanda e Macksine.
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